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Tempo | pt.3

  • Foto do escritor: Alayê Imirá de Brito
    Alayê Imirá de Brito
  • 14 de jan.
  • 2 min de leitura
Eu e Tim, aos 9 anos em um final de semana no parque
Eu e Tim, aos 9 anos em um final de semana no parque

“Nossos passos vêm de longe!”

Minha mãe costuma dizer essa frase em suas palestras quando fala de ancestralidade. Quando estou em crises, lembro dessa frase e, humanamente, entendo que tudo isso será passageiro.


O pior já passou!


Estou lembrando disso neste momento que estou olhando para o alto e vendo tudo que vivi de forma bem ilustrada na minha cabeça. Revivendo parte das minhas memórias no momento que minha vida está em risco.


Vivendo essa crise, especificamente, e entendendo que ela é passageira e lembrando que o pior já passou, porque esse “pior” não foi vivido por mim.


Nossos passos vieram de longe, lembra? Assim, tenho espaço para viver momentos felizes.

Estou revivendo um dia específico que me faz lembrar que sou uma pessoa, mesmo com a vida em risco neste momento. Lembro que já realizava sonhos desde os 9 anos de idade. Este, em específico, foi um gol que fiz de fora da área. Lembro que fui elogiado por uma pessoa que, por acaso, reencontrei recentemente. Disse a ela o quão significativo isso foi para mim e, humanamente, ela se emocionou.


Passo a memória para um momento feliz que aconteceu mais recente.


Fiz uma visita à escola que fui aluno da primeira turma que foi criada. Quando tudo era mato, aquela escola era uma casa. Bati na porta e pedi para ver a diretora. Ela foi ao meu encontro e, de forma instantânea, se emocionou ao me ver.

Me mostrou a escola inteira e me levou na minha primeira sala de aula. Vi crianças como eu já fui naquele espaço. De forma humana, me emocionei com uma criança chamada David que estava fazendo bagunça na sala. Parei para conversar com ele e ele disse que eu tinha cara de famoso. Falei que já fui criança igual a ele e ele disse que queria ter o cabelo igual ao meu.


Rimos.


Ao sair da escola, agradeci a diretora por ter sido uma pessoa que nunca deixou de acreditar em mim. Lembrei à ela que meus pais se divorciaram quando eu tinha 9 anos de idade e que ela foi a que mais pegou no meu pé para que eu tirasse notas boas.


Meus pais divorciados e eu era uma criança negra em um bairro que crianças negras viviam pouco. Essa diretora contratou uma psicóloga para que eu pudesse conversar com ela uma vez por semana. Eu era igual ao David, porque era bagunceiro e odiava o fato de ter que conversar com a psicóloga durante meu recreio uma vez por semana. Mas eu também era uma criança de sonhos e sonhos não envelhecem.


Estendo os agradecimentos a todas as pessoas que nunca deixaram de acreditar em mim em momentos que eu não entendia a importância disso. Em especial, aos meus ancestrais.

Aos que não entendem, vou explicar de novo na continuação deste texto (que virá na próxima semana, ou não… não sei).


Mas, não se esqueçam que, nossos passos vêm de longe!


O pior já passou e isso me traz vida.

 
 
 

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