Levezas, Sorrisos e Conquistas
- Alayê Imirá de Brito
- 5 de mar.
- 3 min de leitura

O relógio marcava 16h30min de um sábado de calor e um barulho é ouvido do lado de fora. O moço corre até a janela para ver o que estava acontecendo e se depara com uma criança caída.
Há alguns metros de distância, uma mulher mais velha de cabelos curtos que pareciam os meus, se aproxima até ela e pergunta se está tudo bem. Ela faz um sinal de positivo e ele pergunta se ela quer tentar mais uma vez.
Corajosa, ela diz que sim.
Ela levanta a criança, arruma o capacete rosa na cabeça, as cotoveleiras rosas nos cotovelos, a joelheiras rosas nos joelhos e dá uma checada nas luvas pretas que eram quase da cor da sua pele.
“Pronta?” — ele pergunta.
Ela faz um sinal de positivo como resposta e a mulher começa a empurrar pelo banco até que a bicicleta atinja uma velocidade aceitável para a criança se equilibrar.
Ela anda por alguns longos metros e consegue fazer a curva para em “U” para retornar para o seu ponto de partida, que está a esperando com os braços tão abertos quanto o seu sorriso.
A mulher a recebe e a carrega como se fosse um troféu. As duas comemoram como se fosse o título mais importante da vida daquela criança.
O moço que observava a cena com um ar de preocupação, no início, também comemorou esse feito. Deu um grito pela janela e parabenizou a criança.
Ela, tão orgulhosa de si mesma, agradeceu. A mulher mais velha também agradece pelo reconhecimento e demonstra ainda mais orgulho pela criança.
O moço sai da janela e escuta as vozes do senhor incentivando a criança a pedalar sem o empurrão dele, dessa vez.
“Agora sem a ajuda do Vovó. É com você! Vamos lá.”
Emocionado com a cena que acabara de testemunhar, o moço tenta voltar a se concentrar na sua leitura da pós-graduação, mas não consegue terminar uma página sem pensar na coragem da pequena guerreira que acabou de aprender a andar de bicicleta.
Fazia tempo que ele não via uma cena tão pura quanto essa.
Refletiu da vez que aprendeu a andar de bicicleta, mas lembra que foi com uma bicicleta emprestada de um amigo que já sabia andar. Foi uma cena marcante para ele também, mas não tão bonita quanto a que testemunhara.
Refletiu, também, na última vez que se emocionou...
Refletiu mais um pouco… Brigou com sua memória para conseguir achar algum momento que havia sentido qualquer tipo de emoção e se lembrou de quando se formou em Geografia pela UFF.
Mas ele muda rápido de pensamento porque a UFF não traz o boas lembranças. Para pessoas como ele, formar na Universidade pode ser uma grande vitória e, ao mesmo tempo, um grande livramento.
Lembrou do dia que uma garota falou em uma roda de colegas no bar sobre o Lim, que era um outro colega de curso que vendia chocolates fora do horário da aula para conseguir se manter na universidade. Toda a roda concordava que essa era uma história de superação e admiravam a resiliência do Lim. Todos bastante emotivos quando falavam do Lim, menos o moço.
Na cabeça dele, romantizar o fato do Lim estar trabalhando enquanto eles estavam discutindo a respeito dele na mesa de um bar, dizia muito sobre os futuros Geógrafos do Brasil.
Mas, por estar tão saturado por esse ambiente, ele preferiu se calar. Ele estava preocupado demais em se manter vivo que as emoções da vida ficaram para depois.
Depois de inúmeras tentativas de reflexão sobre emoções, ele conclui que ele se torna um ser humano diferente depois de presenciar aquela cena da pequena grande ciclista campeã daquela tarde de sábado.
Ele sente.
Se emociona, mais uma vez.
E se sente vivo por estar presenciando sorrisos e conquistas de forma leve.
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