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Eu, o Barco e a Água

  • Foto do escritor: Alayê Imirá de Brito
    Alayê Imirá de Brito
  • 31 de jan.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 11 de fev.


Em algum lugar da Floresta Amazônica
Em algum lugar da Floresta Amazônica

Éramos três: eu, meu barquinho e a água. Estávamos navegando em pleno alto mar no meio de uma tempestade.


Ao meu redor, ondas. Muitas ondas que chacoalhavam o meu pequeno barco a ponto de quase me derrubar dele. Se eu caísse, não tinha conversa. Já era para mim.


Meu barquinho, coitado, quase se despedaça.


E, se ele fosse, iríamos juntos. Ele suportou mais do que eu, mas acredita-se que suportamos juntos. Eu já acho que não. Quem estava me navegava naquela hora era a água. Eu mesmo, pobre de mim, era um minúsculo no meio daquela imensidão azul ao meu redor. Não tinha muito que eu podia fazer.


Sem raios e trovões como nos filmes. Mesmo com todos os motivos que a natureza teria para se revoltar contra a humanidade, ela não estava se revoltando contra mim. Nem me mostrando toda sua força para que eu me assustasse com tal capacidade.


Nunca tive dúvida disso.


Ela só estava sendo ela. Da forma que ela é! Puramente linda. Normalmente agitada. Estupidamente real.


Com várias cores de azul que não observei por estar ali, por ela. Só foi possível observar porque eu estive ali... comigo mesmo.


Então, eu acordei e do barco eu não pulei! 


Só se pensa no poder da calmaria depois que passamos pela tempestade. Procurei um mar diferente ao que eu me encontrava para colocar o meu pequeno barco frágil depois de ter vivido uma tempestade turbulenta. Paramos em um porto para acharmos reparo nas madeiras que tinham soltado. Limpamos por dentro para depois fazermos uma nova pintura do lado de fora. Nesse tempo, conheci o pescador que disse que preciso conversar com a Rainha das Águas antes de me aventurar em sua casa. 

Fiz como ele disse.


Tomei meus banhos no porto, recolhemos pelo período exigido para a cura, até me sentir preparado para me aventurar novamente em outras águas com o meu barquinho reformado e cheio de sonhos.


O barco é o mesmo, mas o mar que me encontro… esse é diferente.

Ele exige mais de mim do que do meu barco. 


Ele é leve.  Ele é limpo.  Ele é puro. Ele é cheiroso. É espaçoso. Aconchegante.

Acolhedor. A água dele me seduz.


Há muito espaço para ser navegado nesse mar e eu não vejo a hora de pular de ponta nele para aprofundar a cada mililitro dessa água com meus braços, pernas, corpo... alma. Sinto que não será preciso da proteção dele para navegar nessa água até perder o meu barco de vista. 


O barco estava certo. Ele não será necessário aqui.  Ele estava certo. Não éramos um só.


Até porque, sou um só quando me deságuo em seu oceano, que tem as cores que amo, o ritmo que me prende, e a profundidade que me tira do raso, mas que não me afoga.

Pelo contrário. Me dá vida!

 
 
 

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